top of page

                                                      A dissolução de uma praça                                                          

Da cidade medieval herdamos as praças abertas, as praças de mercado e de catedrais, que eram concebidas de forma a preservarem os edifícios eminentes mais próximos que determinavam a disposição e a forma do espaço aberto. Muitas delas com amplas dimensões poderiam conter várias tendas, como também serem usadas para reuniões, festas públicas, rituais religiosos e cerimônias oficiais, e jamais foram usadas inteiramente para fins residenciais. Essa praça de mercado, por exemplo, resgatava as funções da antiga ágora e do Fórum Romano.

Por volta dos 1600, em Londres, formava-se um novo tipo de praça, um espaço aberto com jardins rodeado exclusivamente por moradias, sem lojas ou edifícios públicos, somente com uma igreja ao fundo, concebida como parte de um novo traçado de ruas. Arquitetonicamente, estas praças foram sendo modificadas para depois do século XVIII receberem o gosto romântico pela paisagem enchendo-se de jardins, suavizando o ar.

Uma praça no Recife, especialmente, nos faz lembrar àquelas antigas de residências, é a praça de Casa Forte, projeto do arquiteto Burle Marx em 1934, época em que iniciou sua vida profissional aqui no Recife, fazendo uso intenso da vegetação nativa nacional. Antigo local do engenho de Ana Paes e reduto da vitória do Exército Pernambucano sobre os holandeses, a praça vem, ao longo desses últimos dez anos, sofrendo intervenções desastrosas no seu espaço arquitetural. Não bastasse a falta de compromisso da PCR com o quesito “manutenção das praças do Recife”, exclusivamente nesta, onde se realiza anualmente a tradicional festa da Vitória Régia, a população viu surgirem cinco grandes blocos de concreto em meio a sua ambiência: o edifício Villa da Praça, com 20 andares, com uma das fachadas voltada para a rua Jacob Velosino (rua posterior à praça); o edifício Maria Clementina Viana, nº445, com 20 andares, (um por andar), esquina com a rua Anunciada de Moraes, que envolveu uma bela casa de estilo eclético sem, contudo, criar uma área de transição; o Empresarial Alcides Fernandes, nº381, com 7 andares que preservou, em sua área de frente, a antiga casa de estilo eclético; no nº317, surgiu o edifício Freguesia de Casa Forte, com 40 andares, esquina com a rua Edson Álvares, próximo á Igreja, que também envolveu um belo casarão eclético ainda com pinhas ornamentais em sua platibanda, com uma solução mais adequada criando uma pequena mas agradável área de transição entre as edificações antiga e a nova; no nº 354 foi erguido o edifício Praça de Casa Forte, com 18 andares, (02 aptos por andar), que preservou uma harmoniosa casa eclética em seu espaço de frente, com uma extensa área de transição; o nº 51 nos traz o edifício Luiz Numeriano, com 30 andares, um por andar, esquina com a rua Visconde de Ouro Preto (antigo Arcádia I). Ainda encontramos na praça, 6 bebuns que ali residem e que se banham conjuntamente nos tanques existentes e um lava-a-jato clandestino que ocupa as suas vias internas.

Pelo exposto, constata-se claramente, que a dissolução da praça caminha a passos largos. Tornou-se impossível caminhar após ás 7 horas da manhã, por exemplo, devido ao fluxo intenso de veículos acelerados em seu entorno. Em um futuro não muito longe será, certamente, transformada em um imenso estacionamento, a exemplo de tantas outras praças do Recife. Lamentável, mas restarão apenas as fotografias antigas, os fatos históricos e as páginas desbotadas que revelam o descompromisso dos gestores municipais da época.

Edit by CarlosDantas

  • Twitter Classic
  • Facebook Classic
bottom of page