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                                                         A fragmentação da vida                                                              

Comovente a foto do pequeno Omran, sentadinho no interior da ambulância, coberto de poeira e sangue, após ter a sua casa destruída na cidade síria de Aleppo. Em depoimento dramático, o fotógrafo Mahmud Rslan, expõe o horror desta guerra: “Já tirei muitas fotos de crianças mortas e feridas pelos bombardeios em Aleppo, segunda cidade de um país devastado por mais de cinco anos de guerra”. Continua: “Normalmente elas estão desmaiadas ou choram. Mas Omran estava sem voz, com o olhar perdido. É como se não compreendesse muito bem o que tinha acontecido”. O vídeo exibido pelo Centro de Meios de Comunicação de Aleppo em que mostra Omran limpando com a mão esquerda o seu rostinho ensanguentado e, depois, olhando para a mão e passando-a na cadeira da ambulância, causou comoção incomum e deixou-me profundamente fracionado. Em setembro de 2015, os jornais do mundo já haviam estampado a foto de Aylan, de 3 anos, encontrado morto por afogamento deitado em uma praia da Turquia que chocou o mundo inteiro, revelando a insensatez e a estupidez daqueles homens envolvidos no conflito e o drama dos refugiados sírios, em uma guerra iniciada em março de 2011.

Inúmeros são os relatórios publicados anualmente pelo Unicef quando mostra um contexto de “violência, medo e desarraigamento” que atinge as crianças sírias e as outras exiladas. São milhares de crianças mortas todos os anos por bombardeios e muitas morrem ou de fome ou por maus tratos em todo o mundo. Notícias dos jornais nos revelam que em Aleppo, a cidade do conflito, 35% das vítimas são crianças. Nessa região, são milhares delas fora da escola, não só na Síria como também na Turquia, no Líbano e no Iraque, porém mesmo às que frequentam encontram-se desprovidas de material ou alimentação. É uma realidade dura e cruel ao vivenciarem a morte tão próxima de crianças com apenas 3 ou 5 anos. Não faz muito tempo – ontem, talvez, as autoridades do mundo ocidental além do representante da Rússia se reuniram pedindo uma solução para o conflito. São apenas pedidos e afirmações, ignorados e esquecidos em meio à dor e às tragédias constantes.

O drama do pequenino Omran, talvez, seja tão comovente quanto o das nossas crianças sertanejas – sem água, sem alimento, sem paisagem e sem perspectivas. Todas são crianças feridas e muitas delas chegam a morrer. A fragilidade da vida é desenhada em cada rosto. De um lado predomina a insensatez dos homens, alimentada pela arrogância em busca de poder econômico, geográfico, bélico etc; do outro, assistimos à indiferença social e à incredulidade política. Não há diferença entre o sofrimento de um ou a morte do outro. O que receberão como dividendos com a solução dos conflitos?

Em nosso mundo de modernidade repleto de maravilhas tecnológicas constatamos que tem sido difícil sentir, ver e dizer que há algo de valor nas pessoas, de oferecer-lhes otimismo e significado e entusiasmo pelo êxito. Que futuro terão essas crianças do mundo? Eu, gostaria muito de presentear o pequeno Omran com um imenso afago e um demasiado sorriso de felicidade.

Edit by CarlosDantas

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