A greve nas Universidades O tempo decorrido da greve, mais de 100 dias, envolvendo mais de 55 Universidades Federais, acarretando a paralisação de milhares professores e de alunos em todo o País, é proporcional ao descaso e à insipiência do Governo Federal quando o assunto é educação no Brasil. Este tema já foi por demais analisado e debatido entre todas as classes docentes, ao longo do tempo, e nada acontece ou surge de novidade para equacioná-lo. Lamentável.
Os notáveis técnicos do Ministério da Educação insistem (todas às vezes em que é deflagrada uma greve nacional de Docentes) que é preciso uma grande reunião entre todos os membros da junta econômica do Governo, formada pela Casa Civil e os Ministérios do Planejamento e da Fazenda para analisarem a situação e discutirem uma proposta apresentada, que se alonga até 2015. Mais absurdo ainda é saber que, somente depois de 80 dias de paralização, o Governo se manifestou, ensaiou uma discussão, inteiramente indiferente ao prejuízo causado em todo o País. Não faz muito tempo que a sociedade brasileira assistiu com perplexidade ao cinismo de suas excelências do Congresso em se concederem, de maneira irresponsável e debochada, um soberbo aumento de salários (63%), de uma só lapada, em cima dos seus já polpudos vencimentos, sem dividi-lo para anos posteriores e sem qualquer proposta de reunião com os tais membros da junta econômica do Governo, e ninguém falou em crise econômica mundial, demonstrando a indisfarçável “superioridade” e a concentração de privilégios estabelecidos muito bem protegidos por suas excelências. Agora mesmo, notícia veiculada pela Imprensa escrita (salve a Imprensa que descobre e divulga essas sacanagens congressuais) revela-nos a estafante jornada de trabalho a que serão submetidos os nossos parlamentares durante o período eleitoral: seis dias de “trabalho” em agosto; três dias em setembro; e mais seis em outubro. É ou não é um parque de diversões esse nosso Congresso?
É um absurdo que os docentes no Brasil tenham que deflagrar uma greve nacional para conseguirem melhores condições de trabalho e salários dignos para sobreviverem. É outro grande absurdo um vereador, das grandes capitais do País, receber um salário muito mais elevado do que um professor com Doutorado. Outros órgãos como a ANVISA, a Receita Federal, a Polícia Federal e tantos mais, também se encontravam em estado de greve, engrossando a corrente dos servidores insatisfeitos com o Governo. Aliás, todos os servidores do Poder Executivo deveriam protestar ou indignarem-se contra os inúmeros privilégios do poder Legislativo, que macula e envergonha a todos nós, criaturas viscosas e despreparadas, com raríssimas exceções. Agora mesmo, enquanto as Universidades estavam paralisadas – com os professores ávidos por uma solução adequada e satisfatória, e para concluírem o primeiro semestre letivo – suas excelências vagueiam em visita às suas bases, caminhando e cantando, como diz a canção, e não estão nem aí para o incomensurável prejuízo nacional. Quando nós receberemos um rótulo de reconhecimento internacional de um País sério, honrado, competente e isento de corrupções?
Certamente, muitas das nossas crianças, amanhã, não saberão ler, nem escrever, nem falar, nem desejarão ser professores, nem serão profissionais liberais de nível, mas terão outras “profissões” com melhores condições de trabalho e salários dignos, que fizeram de
uma sala de aula um simulacro. E o País permanecerá sempre de chuteiras, com carnaval e cerveja. Fernando Guerra é arquiteto , Doutor em Arqueologia e Conservação do Patrimônio