A Igreja de Nossa Senhora da Graça e a democrática insipiência no Brasil
A Companhia de Jesus é uma Ordem Religiosa fundada em 15 de agosto de 1534 por Inácio de Loyola e mais seis outros estudantes, dentre os quais, o espanhol Francisco Xavier. Como uma organização disciplinada eles aprovaram a escritura de “desenvolver trabalhos de acompanhamento hospitalar e missionário, em Jerusalém ou aonde o papa os enviar”, fazendo votos, nessa ocasião, de pobreza, castidade e obediência ao Papa Paulo III.
Em 1549, chegaram ao Brasil (Bahia) os primeiros seis missionários liderados por Manoel da Nóbrega, trazidos por Tomé de Souza, o primeiro governador – geral. No Brasil, erigiram notáveis exemplares como o Colégio de Salvador (1549) – BA, o Colégio de Olinda (1551) – PE , o Colégio do Rio de Janeiro (1585) – RJ e o Colégio de Santos, (1598) – SP e mais cinco escolas de instrução elementar em Espírito Santo, Ilhéus, Porto Seguro, São Paulo de Piratininga e São Vicente. Em 1759, por decisão do Marquês de Pombal, foram expulsos de todas as colônias portuguesas, inclusive do Brasil.
A Igreja e o antigo Colégio de Olinda se situam em uma colina voltada para o mar, erguidos no primeiro século da nossa colonização e, segundo o mestre Lúcio Costa, “é a única Igreja no Brasil com pedigree daquele primeiro estilo Maneirista”, trazido para o Brasil através dos religiosos, no século XVI. Com a fundação da Vila de Olinda, o donatário Duarte Coelho Pereira se fixa em uma colina – hoje conhecida como Alto da Sé – e nela constrói a sua torre-castelo, que ainda podia ser vista em meados do século XVIII e, no entorno desta edificação, vão surgindo outras ermidas e capelas e as primeiras casas, naquele alto.
Cartas escritas pelos padres jesuítas Manoel da Nóbrega e Antônio Pires, em 1551, revelam que, “Duarte Coelho, fundou, num pequeno outeiro da sua vila de Olinda, uma ermida, a Nossa Senhora da Graça, com intuito de oferecê-la aos religiosos de Santo Agostinho, se viessem ao Brasil. Não vieram, por isso, quando os jesuítas chegaram à capitania em1551, doou-lha o governador”.
Em 1562, tem início a construção de uma nova igreja e o colégio, sob a orientação dos padres João de Melo e Antônio de Sá, erguida já em alvenaria de pedra, estando como governador da Capitania, Duarte Coelho de Albuquerque. Em 1631, com a Igreja e o Colégio em amplo funcionamento, Olinda sofre a invasão holandesa e o incêndio, este atingindo grande parte dos seus monumentos. Em meados do século XVII, os edifícios são recuperados e o Colégio continua como Seminário Arquidiocesano. A partir de 1974, empreende-se uma importante restauração a cargo da FUNDARPE, com o projeto do arquiteto José Luiz Mota Menezes, descobrindo elementos tectônicos e de modenatura da igreja quinhentista.
É, pois, bastante louváveis e reconhecidos a atitude e o esforço do arcebispo Dom Fernando Saburido em pedir “que a sociedade se sensibilize e entenda a importância histórica e cultural do Seminário de Olinda. Desejamos voltar a funcionar e continuar servindo à sociedade, contribuindo culturalmente com Pernambuco”. Este pedido, este esforço e esta magnitude cultural deveriam partir, em princípio, pela própria localização dos edifícios, da Prefeitura de Olinda, que os têm em seu sítio histórico valorizando o seu turismo local, contudo, daquele feudo inútil do PCdoB instalado em Olinda, há anos, nada de útil se pode esperar, haja vista o retrato caótico em que a cidade se encontra: monumentos fechados, cidade suja e
insegurança. Do governo do Estado, frágil, ineficiente e submisso politicamente, além de culturalmente atoleimado, também não devemos esperar nenhuma contribuição cultural ou financeira e, por fim, do governo federal, este, em estado terminal, entende-se que absolutamente nada será realizado em benefício do monumento. Constata-se, pois, prezado leitor, que a democrática insipiência no Brasil permanece viva e atualizada e preenche também os salões dos Palácios.