A nova Lusitânia e a Vila de Olinda
Por longos 30 anos as terras concedidas e achadas pela coroa portuguesa foram deixadas ao sabor dos que as exploravam, independente de sua origem. Os franceses que varriam todo o litoral, comerciavam o pau-brasil e somente poucas feitorias garantiam que tais terras pertenciam ao Rei de Portugal. Com o aumento dessa exploração, veio a se decidir pelo sistema de divisão do território segundo doações hereditárias a pessoas escolhidas pelo Rei. Em 1535, Duarte Coelho assumiu o seu pedaço de terra que compreendia desde os limites com a capitania de Itamaracá até o Rio São Francisco.
Instalado provisoriamente na antiga feitoria de Cristóvão Jaques situada diante da Ilha de Itamaracá, logo o Donatário se deslocou para o sul fixando-se em uma alta colina, próxima uma légua de um antigo ancoradouro. A criação do assentamento urbano foi resultado de uma cuidadosa escolha do lugar segundo parâmetros estabelecidos pelos que conhecendo os interesses de permanência do Donatário desejavam um empreendimento duradouro e sustentável. O desenho urbano que desse propósito resultou expõe tais condições onde ao lado da sede administrativa e do casario estavam a área de plantação e o porto. Os rios serviriam de estradas fluviais para o escoamento do produzido.
Assim, quanto a escolha do lugar, seguia-se o exemplo tão recuado no tempo de Coimbra - cidade situada em uma elevação – ou das cidades do Porto, Luanda, Goa, Macau e outras, cujas implantações revelam uma maneira inteiramente diferente daquela empregada pelo espanhóis, cujo assentamento urbano empregava uma malha regular com relação às ruas e uma praça central.
Na maior colônia portuguesa de além-mar, o Brasil, já no século XVI, vamos encontrar algumas povoações como Salvador, Olinda, Rio de Janeiro, Igarassu, Vila Velha (Itamaracá) e, mais tarde, Ouro Preto, São João Del Rey, Tiradentes e outras, todas implantadas à maneira portuguesa, em elevações, gerando assim várias ladeiras íngremes e tortuosas, acolhedoras e românticas, emolduradas por um casario que se enfileira, agarrando-se às encostas.
Os primeiros assentamentos urbanos da capitania ficavam no alto das colinas e onde estavam sempre a igreja Matriz, a Santa Casa de Misericórdia com o seu hospital, a casa do Administrador, a casa da Câmara e Cadeia, a ferraria e o mercado com o açougue e, finalmente, uma cerca de madeira para proteção das primeiras casas. A Vila de Olinda adotou esta organização urbana e escolheu uma colina muito alta para as primeiras construções.
Da Olinda de 1583, o padre Fernão Cardim nos deixou importante descrição: ”a gente da terra é honrada; há homens grossos de quarenta, cinquenta e oitenta mil cruzados de seus. Tanto os homens, como as mulheres e seus filhos vestiam-se de toda a sorte de veludos damascos e outras sedas sendo nisso, opinava o jesuíta, que praticavam excessos”.
Com a vitória sobre os índios, a Vila de Olinda começa a se estender para as demais colinas. A mais antiga construção fora do núcleo inicial deve ter sido a igreja de Nossa Senhora do Monte. Depois, com a vinda das Ordens Religiosas, vão se consolidando as cercas (quintais) pertencentes a cada uma delas e situadas ao longo do salgado.
A Vila estendida se situará, assim revelam os mapas, para além de tais propriedades religiosas e na direção oeste. Os franciscanos ocuparão grande área doada pela senhora D. Maria da Rosa e abaixo da propriedade dos inacianos, esta doada pelo Donatário em 1551. Os beneditinos vão ocupar uma área bem perto do porto fluvial conhecido como Varadouro, onde se conserta a galeota. Os carmelitas recebem, depois de acordo, uma ermida de Santo Antônio junto ao Rossio da Vila.
E em Olinda, naqueles idos tempos do século XVI, o Convento e a Igreja dos frades carmelitas ficavam em posição destacada diante do Rossio da Vila. A cerca do Convento do Carmo colava com a do Mosteiro de São Bento tendo um caminho entre elas que da praia atingia um largo na parte mais elevada da colina, onde depois foi construído o Palácio dos Governadores, hoje edifício sede do Governo Municipal. Estes são os primeiros passos de ocupação da Vila de Olinda, Patrimônio Cultural da Humanidade, berço e lugar da nossa brasilidade.