Algumas curiosidades sobre a Viagem do Descobrimento 1
Sob as instruções que Vasco da Gama lhe passara, após ter desvendado a rota marítima que o levara da Europa às fabulosas riquezas da Índia, a armada de Cabral – composta de dez naus e três caravelas – estava imbuída de duas missões: a primeira partiria para Calicute, na Índia, onde deveria estabelecer relações comerciais com o Samorim - o soberano do mar - e fundar uma feitoria (estabelecimento comercial e de defesa criado por D. Henrique em 1448, modelo de muitas outras que viriam nos séculos seguintes na Índia, no Japão e no Brasil). A segunda, destinava-se à cidade de Sofala (hoje em Moçambique), em busca de minas de ouro.
Todos os capitães da armada eram muito bem pagos, assim como os pilotos e mestres. Recebiam em cruzados, mais de mil cruzados – cada cruzado valia o equivalente a 3,5 gramas de ouro – e mais cinquenta ou cem quintais de pimenta para revenda em Lisboa. A pimenta era, naquela época, a especiaria mais cobiçada do Oriente, artigo de extrema importância na economia europeia.
Nos séculos XIV e XV, as cartas náuticas e a cartografia europeias revelavam aos portugueses uma convicção de que outras ilhas deveriam existir a oeste dos Açores e da Madeira então, a existência dessa nova terra chamada ilha do Brasil era, quando menos, previsível. Existia, inclusive, ma lenda segundo a qual, o nome Brasil teria surgido entre os Celtas,”bress”, para o inglês, to bless (abençoar), Hy Brazil, portanto, significava terra abençoada. Segundo a lenda, Hy Brazil teria sido descoberta e colonizada por São Brandão, um monge irlandês por volta de 565.
Da capela do Infante, Capela de São Jerônimo, construída em uma suave colina em Belém, Lisboa, erguida pelo Infante D. Henrique, D. Diogo Ortiz, bispo de Ceuta, após o sermão proferido sob à luz de inúmeras tochas, benzeu uma bandeira da Ordem de Cristo – Ordem militar originária dos Cavaleiros Templários da Idade Média – e a entregou a el-Rei D. Manuel, chamado o Venturoso, que repassou-a, então, a Pedro Álvares Cabral, o nobre cavaleiro escolhido para chefiar aquela missão.
A nau capitânia de Cabral, com capacidade para 250 tonéis – antiga medida de tonelagem dos navios – era composta por besteiros, marinheiros, soldados, serviçais, degredados, oito frades franciscanos, oito intérpretes, fidalgos e escrivães, em um total de 190 homens a bordo. Entre os comandantes de Cabral na armada estavam vários dos maiores navegantes de seu tempo, exploradores experientes, pilotos renomados e capitães de vidas lendárias, como Sancho de Tovar (Vice-comandante da armada), Nicolau Coelho (o navegador possuído pelo encanto do mar), Bartolomeu e o seu irmão Diogo Dias, Gaspar de Lemos, Simão de Pina, Vasco de Ataíde e tantos outros. Todos conheciam inteiramente os riscos daquela jornada, tanto assim que haviam deixado assinado o seu testamento.
Pedro Álvares Cabral nascera em Belmonte, ao norte de Portugal, em 1467/68, e teria sido escolhido para comandante daquela importante expedição, pelo menos por três razões: a primeira pelos vínculos de amizade que a sua família mantinha com o reino; a segunda porque era membro da Ordem de Cristo; e a terceira porque era casado com uma das mulheres mais
nobres de Portugal, D. Isabel de Castro, que era neta dos reis D. Fenando de Portugal e de D. Henrique de Castela. Para livrá-lo de toda adversidade, o comandante carregava sempre consigo uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança ao longo de toda a viagem de Portugal à Índia.