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                                    Alguns espaços, adros e pátios do Recife                                                  

As cidades são formadas pela conjugação de idéias e riscos, de histórias, de memórias e de monumentos que constituem em diferentes tempos e espaços as suas paisagens e os seus cenários. Paisagens das cidades antigas ricas de histórias e de lembranças, pinturas de horizontes, em cujo solo arqueológico se entrelaçam os vestígios de grupos e civilizações. Cenários das cidades modernas com enredos de transformações, de desenhos de prédios sempre mais altos e espessos com janelas metálicas, que demarcam a individualidade das pessoas, refletindo somente as paredes como horizontes.

Paul Virillo, urbanista francês, revela que “as cidades modernas são fenômenos de mutação; que o século XXI terá que reinventar a relação do homem com a terra, onde a grande questão ecológica na verdade é a cidade – a construção das cidades do homem”. Quanto mais ela se estende, se expande, mais a unidade da população e da família se reduz. À medida que a cidade se desenvolveu, a família passou a ser extensa. Na verdade, em tempos modernos, temos visto a desintegração da unidade familiar enquanto unidade de reprodução. A cidade moderna deixou de ser um lugar de socialização para se tornar um lugar de desagregação e de distâncias, muitas vezes sem tempo de chegada... Nessas cidades, o hábito das discussões em conjunto tão rico e repleto de observações como de outrora, foi interrompido ou finalizado, restando a história e/ou abordagens, ou algum edifício antigo, uma igreja, algumas praças aonde pode acontecer ainda essas discussões e os encontros.

O estudo dos Adros ( são os espaços de frente das igrejas), dos pátios e das praças públicas, considerando-se uma quase ausência de relatos mais minuciosos sobre o assunto, passou a ser dos mais necessários. São espaços urbanos presentes nas cidades antigas e modernas, com as mais diversas formas e funções, de conformidade com as diversas tradições da comunidade, ou com as Ordens Religiosas presentes e o Poder Civil.

Das suas primitivas feições em países mais antigos no continente europeu encontramos, após pesquisa em fontes bibliografias diversas, inúmeros exemplares, hoje monumentos históricos ainda preservados, vivos encontros citadinos, tal qual àquelas ágoras abertas para os discursos democráticos de Péricles, na Grécia, ou outros em Florença e Veneza, na Itália, ou em Avignon, na França. Em outros lugares no entanto, no decorrer dos anos, muitos adros, pátios e praças públicas foram modificados em seu desenho original e outros perdidos completamente, tomados de assalto pelo desenho feroz da modernidade, de maneira que estudá-los e compreendê-los torna-se uma satisfação que enriquece, sobremaneira, a história do urbanismo das cidades. Dessa forma, citamos os adros (e os terreiros de Jesus), os pátios e praças romanas, algumas francesas, outras espanholas, praças do México e de Portugal, de Olinda e do Recife, e mais em Sabará, Tiradentes e Ouro Preto, nas Minas Gerais.

Em cada um desses espaços da cidade temos nos debruçado acerca da sua traça e formação arquitetônica, das suas funções sociais originais, “aquelas que dela emergiram e aquelas que podem ser ainda invocadas” (Munford), da sua contribuição histórica para o entendimento e evolução das comunidades. Mas, nos debruçamos também sobre o despreparo da sociedade moderna – em muitos casos – em preservá-los, levando-os a novas formas urbanas de convívio social, resultando em espaços de mutações constantes, a exemplo do Recife moderno, cujos adros e pátios vêm sendo modificados ou destruídos ao longo de todos esses anos. Na verdade, o Recife vem sendo modificado ou destruído com o passar dos anos e pouco tem sido feito para

preservar a sua memória. Todas essas novas imagens da cidade “destruída” passam a fazer parte da paisagem urbana que é hoje revisitada. Rever a sua original leitura e a sua permanência no tempo, diante da fragmentação e do caos estabelecido nas cidades “modernas” é absolutamente interessante. Entretanto, a cidade permanece indefinível diante de todas as suas manifestações e de todas as transformações até a desintegração corporal de sua velhice.

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