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                                                                   Caos no Centro                                                                    

Uma série de matérias publicadas pelo Jornal do Commercio (aos domingos) retrata muito bem a desordem na qual se transformou o centro do Recife. As ruas, os becos, as vielas e calçadas, os adros, os pátios e praças públicas, outrora ricos locais de história e de sociabilidade, acessos de ir e encontros de vir, estão todos emporcalhados e nauseabundos, lembrando de perto àqueles núcleos urbanos do pós-medieval.

O Recife, desde o seu núcleo social embrionário - uma imensa planície aonde suas primeiras habitações parecia emergirem das águas espelhadas do Capibaribe – vem experimentando, ao longo de todos esses anos, as complexas fórmulas de transformação propostas ou impostas por seus governantes, algumas adequadas e outras absurdas, conduzindo a cidade às novas formas da sua maturidade e a desintegração corporal da sua velhice, como dizia Lewis Mumford em “A cidade na história”.

As cidades, aos longos de suas carreiras pela história, para empreenderem um salto suficientemente ousado em direção ao futuro, procuram beneficiar-se de novos alicerces para a vida urbana, novos planos e equipamentos, uma análise apurada e identificação das suas potencialidades.

No Recife, ainda é possível observar em algumas das funções da cidade sendo desempenhadas e preenchidas com alguma finalidade, mas é nítido e inimaginável vislumbrar os obscuros traços de uma estrutura pesada e insuficientemente letrada que atingiu a nossa época – que traz consigo uma progressiva perda de sentimento, da emoção e da audácia criadora. Caminhar pelas ruas do centro do Recife exige muito mais do que paciência, exige um esforço hercúleo de desprendimento puramente simbólico em disfarçar daquilo que a cidade nos revela, uma desordem inexoravelmente estúpida, uma população subjugada e companheira de sua própria insipiência, descompromissada com quaisquer princípios de moralidade urbana. Por outro lado, a sua Câmara repleta de benevolências na concessão de títulos (de cidadãos) promocionais – tem um papel atuante de coadjuvante nesta desordem e descompromissos urbanos, haja vista o elenco de Projetos apresentados à sociedade durante cada legislatura. É lamentável, mas o Recife - que era em tempo não muito distante uma cidade rica de espaços de sociabilidade, com um centro histórico vivo e atraente, de ares bucólicos e verdes exuberantes – é hoje uma cidade moderna problemática, semelhante a tantas outras metrópoles disformes e inconclusas...

Oportuníssimas, portanto, as matérias do JC (Jornal do Commercio), sobretudo porque rebate as propagandas enganosas sobre a cidade, além de revelar a sua verdadeira realidade.

Edit by CarlosDantas

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