Caravaggio expõe no Brasil
O Jornal do Commércio, em matéria publicada no Caderno C (03 de outubro de 2011), presenteou-nos com uma admirável notícia: “Arte italiana no País”. Trata-se, na verdade, das obras de um dos maiores pintores da Itália pós-renascentista, nunca antes expostas no Brasil, Michelangelo Merisi, o Caravaggio. A mostra integrará o Momento Itália Brasil (MIB) - que teve início essa semana, no Rio - e deverá acontecer em março de 2012, na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, (MG), encerrando-se em junho, no Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Nascido em 29 de setembro de 1571, dia de São Miguel Arcanjo, somente tempos depois, em Roma, foi chamado de Caravaggio, como referência ao seu lugar de nascimento, próximo de Milão. No final do século XVI, surgiu uma reação contra o maneirismo (1530-1580...) que tinha como objetivo o de sublinhar os fatos históricos e de expressão, e foi personificada por Caravaggio. Criava-se, então, o Realismo. E o Realismo de Caravaggio era, a um só tempo, artístico e social. De fato, uma obra de arte é simultaneamente um retrato da realidade e uma expressão da alma. Comumente, se o pintor realista esmera-se em representar todos os pormenores da realidade isentando-se da sua reação pessoal diante da realidade que representa, estará, certamente, distanciando-se da obra artística.
Caravaggio provocava sempre uma polêmica social, ignorando a beleza ideal daquela época identificada com a nobreza e a pompa das classes superiores. Em suas telas, reproduzia nas cenas religiosas a vida do povo, sendo por isso, criticado e qualificado, muitas vezes, de um realismo vulgar. Enquanto aprendiz, foi um pintor educado na época do maneirismo tendo o seu princípio fundamental de ver as cores e os seus efeitos residindo em Ticiano; o da luz e sombra nos personagens. De fato, o efeito da luz em Caravaggio é realista e delimita com maior nitidez a forma através de fortes contrastes de luz e sombra, acentuando as expressões. Inicia-se, assim, a luz de Caravaggio e o estilo luminista. Na Vocação de São Mateus, um dos seus mais notáveis trabalhos (esperamos que faça parte da mostra), ele divide a tela praticamente em duas partes: a da esquerda com uma sombra colorida entre laranja, encarnado, castanho, amarelo e negro, com cinco personagens, inclusive São Mateus e, na direita, Jesus Cristo e São Pedro, onde as cores utilizadas modulam as figuras e os objetos. A luz caminha pela tela focando os rostos e as expressões dos personagens como uma picelada divina.... .
Portanto, além de exaltar os laços culturais bilaterais na entrevista que concedeu quando do anúncio da programação do evento, o embaixador italiano, Gherardo La Francesca, reforçou o aspecto de difusão do MIB: “ A cultura não tem que ser um fenômeno de elite, deve ser acessível a todos”. Certamente, será um dos maiores eventos de cultura já realizados no País.