De onde partem os gritos?
No século XVI, D. João III, Rei de Portugal, não poupou cuidados para estabelecer a harmonia e a ordem na sua colônia quando procurava capitães experimentados e que fundamentassem a sua dominação, escolhendo homens distintos em virtude e em ciência para “doutrinarem as verdades da fé, da moral e da honra aos desgraçados povos que desconheciam o Evangelho, e enchiam os vastos sertões do Brasil”. Na verdade, não aprendemos nada dessa história. Continuamos vassalos úteis, povos errantes e “caçadores” bárbaros que se debelam por dinheiro e que se destroem reciprocamente.
O país assiste perplexo a toda essa vilania produzida pelo ... poder. Temos, indubitavelmente, não um “Capitão experimentado”, mas um governo angustiado que precisa reafirmar, a cada dia, a sua autoestima por meio de encenações artificiais. É preciso dizer-lhe, no entanto, que o vulgar aplauso de sua militância ou dos seus subordinados não é a única medida do seu valor. O desfecho final das CPIs não pode suavizar as irresponsabilidades dos políticos. O que responde aos anseios e inúmeras necessidades de nossa população que, com um sabor extravagante de redemocratização e republicanidade (barbárie e vandalismo à parte!), tem proporcionado inúmeras aulas de civismo e sociabilidade nesses tempos de inconsistência política?
Em seus discursos explicativos, em dialeto pequinês, o governo tenta revelar continuamente os seus compromissos...mas, o que significam compromissos para os nossos políticos? Nesse sentido, eis alguns que deveriam ser materializados, reivindicados pela nossa juventude democrática: compromissos com a educação – nos três níveis – para que nós possamos dar o nosso salto de cultura e sairmos dessa profunda escuridão intelectual; compromissos com a saúde pública do país que vergonhosamente não funciona e que esmaga e massacra parcela considerável do nosso povo; compromissos e respeito com a justiça pois é dela que emanam as leis e a ordem; compromissos dos políticos com o espelho, para que eles (os políticos) transformem e se transformem e naveguem nos caminhos da honradez e da verdade, em busca do resgate da nossa ordem social, tão esquecida e maculada ultimamente.
Além dos compromissos, como se justificar diante dos 30 ou 40 milhões de miseráveis brasileiros, todos esperançosos para se transformarem em apenas pobres? O que dizer das nossas crianças que fogem das escolas porque necessitam de trabalhar e àquelas que ousam frequentá-las e as encontram semidestruídas e sem a merenda escolar, talvez a única refeição diária? E àquelas outras que se acham enfermas e indefesas nos leitos dos hospitais, frios e duvidosos, cheios de solidão e vazios de medicamentos? Que dinheirama vem sendo vertido nos cochos desses inúteis senhores e quantas regalias com um único propósito de se aprisionar do poder e assim, poderem dançar no baile dos mascarados...? De onde partem os gritos? Que sejam benvindos!
Eh, senhor Rei, a nossa sociedade de agora está precisando, urgentemente, dos Capitães experimentados de ontem, homens distintos em virtudes e em ciência, para governarem o país de hoje, tal qual a Vossa vontade no século XVI.