Deboche parlamentar
Como de costume, nas últimas horas das reuniões festivas – em que eles chamam de trabalho – na Câmara e no Senado, Suas Excelências, de maneira leviana e com largos sorrisos de cretinices, concederam a si próprios reajustes salariais abusivos. Evidentemente que existiram reações e até alguns pronunciamentos enfocando esses abusos – são as honrosas exceções do Congresso – mas a grande maioria sumariamente defeca sobre os ombros do povo a sua obscuridade, ignorando mensurar os salários pagos com dinheiro público.
A rapidez (como de larápios) na votação do reajuste de 61,8% no salário dos parlamentares assistida pela população estarrecida, um percentual exorbitante diante dos índices de inflação divulgados, e mais, diante dos apelos e da necessidade de contenção dos gastos públicos feitos pelo próprio governo, nunca foi verificada quando o Legislativo se depara diante da questão das melhorias salariais das classes profissionais também consideradas essenciais para o país como médicos, professores e policiais. A desfaçatez estampada em suas caras somente ratifica que Suas Excelências realmente não estão nem aí para a opinião pública.
Vertidos em um mar de privilégios – sustentados pela sociedade brasilireira – diferentemente dos trabalhadores normais, agem sorrateiramente ( de preferência com luvas) em um Congresso desqualificado, haja vista a imensa quantidade de semi-analfabetos existentes na Casa. Em menos de meia hora, aos sussurros, em uma linguagem, ou melhor, em dialeto medíocre, resolveram os seus interesses.
Nesta última legislatura, quais foram, na verdade, os assuntos ou projetos de interesse nacional, projetos de relevância criados e/ou aprovados no Congresso, projetos, por exemplo, que tentessem mudar a caótica situação da saúde pública no país, ou que provocassem uma revolução educacional nos três níveis de escolaridade, elevando o país a uma condição superior e ulterior em termos de educação escolar, ou que defendessem rigorosamente a questão ambiental no país, expurgando esse simulacro que existe atualmente, projetos de controle rígido das taxas de natalidade para tentar salvar essa massa populacional deseducada existente, oferecendo-lhe melhores condições de viver, projetos de absorção de honra, caráter, dignidade e educação que mudassem esses costumes políticos nefastos que envergonham a todos nós. O Brasil não sente vergonha dos nossos cientistas ou dos nossos atletas, dos nossos professores ou da nossa classe médica, ou da nossa imprensa, mas sente vergonha dos nossos políticos
(com aquelas honrosas exceções referidas), que maculam a nossa Bandeira.
O aumento dos parlamentares é imoral, é um deboche. Por que o salário de Suas Excelências (de R$ 26.7 mil) deve ser seis vezes maior do que é pago aos professores universitários com Mestrado e Doutorado, (conforme o prof. Ebenezer Nogueira – UNB) que passam uma vida inteira de dedicação acadêmica, adquirindo livros, lendo, estudando, qualificando-se para não cometer as asneiras que eles cometem. Vamos reivindicar e exigir também os mesmos percentuais de aumento, agora sim, nós merecemos!
A visita de Tiririca a Câmara no dia em que suas Excelências promoveram àquele abusivo aumento não foi coincidência, foi consequência da desqualificação na qual está mergulhado o Congresso. A grandeza do homem não consiste em receber honras, mas em merecê-las. Certamente, suas Excelências estão muito longe disso.