O que leva uma rua à morte?
Sim, o que leva uma rua à morte? Eu daria um exemplo sobre os centros urbanos degradados, que é composto de ruas abandonadas, esquecidas pelo poder público e pela população. Existe uma descontinuidade de sociabilidade, de convivência e de hábitos familiares. É criado um espaço arquitetural vazio e desprovido de familiaridade urbana e suas habitações, agora vazias, convivem com a solidão e com o descompasso de um tempo. As suas ruas, quando muito, apresentam, digamos, um certo horário de expediente de movimento, de encontros e de transeuntes.
O Recife nasceu com aquele “sentido natural” trocando o verde da clorofila dos manguezais, em uma estreita faixa de areia amarela e salina que separa o rio Capibaribe do mar de azul anil, pelo pardo conjunto de aterros e, depois, pela brancura da cal que alvura as suas primeiras habitações. Aos poucos se revelou pelo interesse mercantil sentindo a necessidade de estabelecer contato entre a sua gente, a sua vida e o mundo. A sua origem foi o porto, o lugar central das atividades de troca e de mercado, e o ponto de recepção de novas mensagens culturais, agora experimentadas sob a luz do trópico recifense. Inquestionavelmente, o Recife continua a ser uma cidade comercial ao longo de todos esses anos. O passado telúrico do Recife é descrito através das suas histórias, das suas tradições e das suas lendas.
O comércio, portanto, sempre impulsionou a cidade, mesmo nos momentos de crise e de amargura..., que pode ser analisada por vários aspectos: primeiro pela transferência da população – ou de considerável parcela dela - da ambiência do centro, dos bairros mais antigos e tradicionais para outras localidades como uma necessidade de espaços naturais; em seguida, como acontece em inúmeros centros urbanos do mundo, surge a marginalidade, a disformidade social, a angústia do abandono familiar, a presença e a certeza da inutilidade. É a violência urbana presente, e as ruas atingem um grau e um nível de desordem social extremo, culminando com um processo de degradação material, cultural e ambiental. O terceiro aspecto é observado com a transferência do comércio livre e disperso para a concentração de produtos e mercado, ganhando sofisticação e sendo batizado de “shopping center”- central de lojas e serviços de comércio – uma novidade metamorfoseada dos sofisticados magazines , onde o visitante é aprisionado e conduzido a um elenco de ofertas e a uma diversidade de produtos e serviços como: segurança, alimentação, lazer, discussões, encontros, etc. As ruas perdem aquela vivência mágica do convívio, da familiaridade e da sociabilidade. As famílias se isolam, o indivíduo fragmenta-se e se perde o elo de convívio social das trocas e das discussões culturais. As ruas ganham um aspecto de caminhos sem fim e o espaço arquitetural o homem torna-se vazio, silencioso e sem fruição.